O que explica a discrepância entre o resultado das urnas em primeiro turno, no domingo (2), e o resultado das últimas pesquisas eleitorais? Os principais institutos do país estimavam a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva, e o resultado de 48,4% do petista foi condizente com os dados divulgados na última semana de campanha. No entanto, os institutos não conseguiram captar a subida de Bolsonaro, que nas últimas sondagens só atingia 37% e terminou o primeiro turno com 43% – uma diferença de aproximadamente 7 milhões de votos.

Nos Estados, a situação foi pior: em pelo menos 16 Unidades da Federação, Datafolha e IPEC erraram acima das próprias margens de erro.

A Itatiaiaquestionou os principais institutos de pesquisa sobre a grande diferença. O IPEC, antigo Ibope, afirmou, em nota, que “as pesquisas medem a intenção de voto no momento em que são feitas (…) e são capazes de apontar tendências, mas não são prognósticos capazes de prever o número exato de votos que cada candidato terá”.

O IPEC se justificou sobre os dados dos candidatos a presidente, dizendo que os votos dos indecisos e de Ciro migraram para Bolsonaro. “Nossa última pesquisa mostrou que não era possível afirmar se a eleição acabaria ou não no primeiro turno. Assim se confirmou. O presidente Jair Bolsonaro obteve 6 pontos a mais do que a pesquisa mostrava. Em nossa avaliação, isto ocorreu por tendências também já apontadas pela pesquisa: 3% que ainda estavam indecisos; Ciro Gomes, que na pesquisa aparecia com 5% e obteve 3% dos votos na apuração; além do índice de Simone Tebet que também ficou um ponto abaixo do que a pesquisa mostrava (obteve 4% na apuração vs. 5% na pesquisa)”.

À CNN, o Datafolha afirmou que “as pesquisas não podem ser lidas como uma previsão do resultado da votação, mas sim retratar as preferências eleitorais no momento em que são feitas (…). O Datafolha mostrou durante a disputa presidencial que Lula [PT] sempre esteve na frente, e que seu adversário mais próximo sempre foi Jair Bolsonaro [PL]”. Os eleitores de Ciro, mas sem convicção, podem ter feito a diferença: “Esses dois candidatos sempre tiveram, também, os votos mais cristalizados, enquanto Ciro Gomes (PDT), por exemplo, tinha 41% de eleitores que poderiam mudar de voto até o dia da eleição. Nas últimas três pesquisas antes do 1º turno, o Datafolha já vinha apontando a perde de votos de Ciro Gomes – o voto útil, neste caso, beneficiou mais o atual presidente do que seu adversário”.

O Datafolha se defendeu afirmando que as urnas confirmaram diversos pontos de suas pesquisas.

“A candidatura de Simone Tebet [MDB], também com menos votos consolidados, registrou percentual dois pontos abaixo do que o projetado pelo Datafolha na véspera. Esses movimentos ocorreram entre a véspera da eleição e o dia da votação, e não puderam ser captados por pesquisas realizadas entre sexta [30] e sábado [1]. A votação final do candidato do PT [48,4%dos votos válidos] se mostrou alinhada ao resultado projetado na véspera [50%] devido ao fator já citado, a consolidação na preferência pela candidatura de Lula. As pesquisas do Datafolha também sempre apontaram, corretamente, a clivagem de gênero, religião e renda ao longo da disputa, e os resultados regionais oficiais refletiram essa divisão”, justificou.

Por fim, o Datafolha reafirmou que pesquisas são “diagnóstico, não prognóstico“, e defendeu a “total imparcialidade e transparência do Instituto Datafolha e sua equipe nas fases de captação e divulgação das opiniões e preferências dos eleitores brasileiros”.

Andrei Roman, da Atlas, o instituto que mais se aproximou do resultado final, disse à CNN que o desempenho da empresa foi “excelente” por cravar a “melhor previsão da diferença entre Lula e Bolsonaro no âmbito de estado por estado”.

Erros nos Estados

Sobre as diferenças nos Estados, o Ipec aponta que a polarização do País torna mais difícil cravar um resultado e que precisa buscar “soluções que eventualmente possam ser agregadas ou consideradas em conjunto com a sua metodologia e procedimentos operacionais. Contudo, este é um processo que requer tempo de estudo, análise e comprovação de hipóteses, para que possam ser implementados“. O instituto finaliza afirmando que segue “realizando seu trabalho com a mesma correção, seriedade e dedicação, especialmente a partir dos dados de uma eleição onde a divisão do país representa uma maior dificuldade em se fazer estimativas”.

Outros institutos não responderam aos contatos da Itatiaia.

 

 

Fonte: Itatiaia

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