O Jornal Nova Imprensa e o Portal Últimas Notícias entrevistam nesta edição um dos mais profundos entendedores de bacias hidrográficas de todo o país. Trata-se do médico sanitarista e ambientalista professor Apolo Heringer, um crítico contundente do uso inescrupuloso de nossas águas pelos poderosos.

Ele foi o criador do Projeto Manuelzão, no início da década de 1990, responsável pelo movimento e pesquisas pela despoluição do rio das Velhas.

Hoje, o professor se dedica a estudar o hidronegócio e o que ele representa de negativo para a ecologia e a economia do Brasil.  Com o objetivo de dar continuidade ao seu trabalho de defesa do meio ambiente, desta feita na Câmara Federal, Apolo Heringer, conhecido como médico dos rios, é pré-candidato a deputado federal pelo Partido Verde de Minas Gerais.

Nova Imprensa:  O senhor é um atuante ambientalista, mas não havia, até então, manifestado vontade de exercer cargos no parlamento. O que o levou a mudar de ideia?

. Apolo Heringer: Criamos o grupo Ambientalistas na Tribuna devido ao negacionismo ambiental da ALMG e do Congresso Nacional. A maioria quase total dos parlamentares está do lado dos destruidores das serras e águas de Minas, por cumplicidade ou omissão calculada. O estado e os parlamentos brasileiros estão unidos contra o povo e a natureza do Brasil, praticando crimes ambientais com a maior naturalidade, sem ruborizarem as faces, fazendo cara de paisagem diante do clamor nacional, do desmatamento, do envenenamento dos alimentos, da destruição da fauna, do solo, das águas subterrâneas e dos nossos rios. Ficar apenas mobilizando as comunidades e atuando em conselhos municipais, estaduais e federais, com maioria sempre do lado dos ecocidas, deixando os mandatos entregues pelo voto popular e nas mãos de negacionistas e cúmplices da destruição ecológica tornou-se ingenuidade e também cumplicidade. Agora a luta política vai comandar a reviravolta no Brasil para em breve prazo de uns 10 anos, tentarmos eleger para a presidência da República um presidente ecologista mudando a natureza da política econômica do país.

. Nova Imprensa: Quais serão suas metas principais frente à Câmara Federal, professor Apolo?

. Apolo Heringer: Dar início à reviravolta, com algumas metas. Formar bancadas ambientalistas sérias, municipais, estaduais e federal. Assumir todas as agendas e movimentos ecoambientalistas existentes no território nacional, numa convergência verde, azul e marrom. Assumir a defesa da Emenda à Constituição 106 de 2020 que reconhece a legitimidade da luta dos 34 municípios de Furnas pela cota mínima de 762 metros e de Peixoto em 663 metros, em relação ao nível do mar, sem o que ficam comprometidas atividades como o turismo, a agricultura, a pesca, com perda da biodiversidade da ictiofauna e outros impactos ambientais. O principal motivo deste problema tem sido a intervenção federal beneficiando São Paulo e prejudicando Minas para garantir a navegação no Tietê de grandes barcaças do agronegócio no trecho de alguns quilômetros, conhecido como pedral. Ou derroca o pedral ou diminui o peso das barcaças; mas enquanto São Paulo não assume seus problemas, optou-se esvaziar o reservatório, liberando mais água e deixando Minas Gerais sem Furnas, que sofre todos os prejuízos econômicos, ambientais e portanto, sociais, aliás questões inseparáveis.  Pelejar e  frear a fúria devastadora da grande mineração em Minas Gerais e no Brasil, atividade exportadora de commodities, que exporta água e empregos, afundando nosso desenvolvimento tecnológico, nossa siderurgia e metalurgia, destruindo nossos mananciais.  E assumir  a META 2030 de despoluição dos rios brasileiros com um movimento socioambiental forte e nacional semelhante ao que realizamos em Minas com o Projeto Manuelzão.

. Nova Imprensa:  O Brasil possui 12% da água doce do planeta que vem secando a cada ano. O Sr. Atribuiu grande parte dos crimes contra os nossos ecossistemas ao hidronegócio. Por que?

. Apolo Heringer: O hidronegócio instalou a seca subterrânea no Brasil a partir da década de 1970, no governo Geisel. Exportamos água com a enorme produção de soja, carnes, milho, celulose etc. Secamos nossos lençóis freáticos com a irrigação, a mineração e a indústria. E esse consumo abusivo em volume não paga o valor de mercado da água bruta retirada,  transferindo o ônus financeiro para os consumidores urbanos seja o doméstico, o de serviços, industrial e comercial que pagam tarefas elevadas de água e energia elétrica, pela escassez hídrica desencadeada pela seca subterrânea que alegam, falsamente, ser causada pela falta de chuvas.

. Nova Imprensa: A Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) está te processando judicialmente. Qual o motivo dessa ação e qual a sua opinião a respeito dessa atitude?

. Apolo Heringer: Alegam que foram difamados por eu atribuir à entidade empresarial corresponsabilidade nos crimes ambientais em Minas Gerais, como em Mariana e Brumadinho, e cobrar do Ministério Público ação efetiva contra as atividade da Fiemg na banalização dos processos de Licenciamento, cumplicidade com as grandes mineradoras afiliadas, cumplicidade e omissão em benefício desses interesses e ausência de autocrítica.

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